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Quem Cuida de Quem Lidera?

  • Foto do escritor: Dani  Castro
    Dani Castro
  • 22 de jul.
  • 3 min de leitura

A importância do cuidado emocional na liderança sob a perspectiva psicanalítica


"O espaço para a sua reflexão mais profunda. Psicanálise para líderes: um convite ao autoconhecimento."
"O espaço para a sua reflexão mais profunda. Psicanálise para líderes: um convite ao autoconhecimento."

Muito se fala sobre a saúde emocional das equipes, mas pouco se discute sobre o bem-estar psíquico de quem ocupa a posição de comando. Líderes são geralmente percebidos como figuras fortes, resilientes, estrategistas e de fato são. Porém, por trás das decisões firmes, existe um sujeito atravessado por conflitos, pressões e expectativas que muitas vezes não encontra espaço para ser escutado com autenticidade.


Na perspectiva psicanalítica, esse silêncio não é apenas ausência de fala, é sintoma. É ali, onde o líder se cala para manter a estrutura em pé, que se revela a urgência de uma escuta que vá além da performance. Porque ninguém lidera com excelência sustentada sem cuidar do próprio emocional.


A solidão no topo, uma realidade negligenciada

Estar à frente de uma equipe ou de um negócio implica tomar decisões, assumir riscos e lidar com as frustrações alheias e próprias. O que muitos esquecem é que o líder, ao mesmo tempo que é referência, também é humano. A psicanálise nos lembra que todo sujeito é dividido, ou seja, carrega em si contradições, conflitos e fantasmas inconscientes que não desaparecem ao vestir o crachá de gestor.


Na prática, muitos líderes vivem um paradoxo, quanto mais são reconhecidos, mais se isolam. O medo de parecer fraco, a sensação de não poder errar e a ausência de espaços seguros de escuta os empurra para a solidão. Essa falta de acolhimento emocional pode se manifestar em sintomas como ansiedade, insônia, irritabilidade, decisões impulsivas, excesso de controle e até em doenças psicossomáticas.


O impacto psíquico da liderança

O exercício da liderança exige que o sujeito sustente uma posição simbólica diante dos outros, seja como espelho, como guia, ou como limite. Isso impõe uma carga emocional invisível, mas profunda. A constante necessidade de corresponder às expectativas externas (dos sócios, da equipe, do mercado) pode gerar uma desconexão interna: o líder deixa de escutar seus próprios desejos para sustentar o desejo do Outro.


Na linguagem da psicanálise, esse processo pode produzir angústia, pois há um desequilíbrio entre o que se é e o que se representa. Quando não reconhecida, essa angústia tende a se repetir em ciclos de sabotagem, hiperprodutividade ou bloqueios decisórios. Um líder sem espaço para simbolizar suas vivências tende a liderar na defensiva e não na consciência.


A escuta como ferramenta de liderança

A escuta psicanalítica não é apenas ouvir, é acolher o que não foi dito. Ao abrir um espaço onde o líder possa falar sem precisar performar, sem a pressão de ter que estar bem ou saber todas as respostas, permite-se que esse sujeito entre em contato com sua verdade mais profunda.


Esse tipo de escuta sustenta um lugar de elaboração, o líder passa a entender de onde vêm seus impulsos, onde estão seus medos, o que repete inconscientemente em sua relação com o poder, com o sucesso e com os outros. Isso o torna mais lúcido, menos reativo e mais presente consigo e com os outros.


Liderar é também ser cuidado

Por mais que a função de liderança exija força, ela não deve excluir a vulnerabilidade. Ao contrário, o verdadeiro poder nasce quando o sujeito é capaz de reconhecer seus limites, integrar suas fragilidades e fazer disso um campo fértil para o crescimento. Cuidar da saúde emocional do líder é garantir que a liderança se sustente com consciência, clareza e coerência.


Na prática, isso pode significar buscar um espaço de escuta terapêutica, participar de grupos de supervisão, ter mentores conscientes ou até mesmo estabelecer pausas intencionais para reconexão interna. O que não é mais aceitável é manter a fantasia de que o líder dá conta de tudo, sem ninguém para sustentá-lo.


Psicanálise aplicada à liderança, um diferencial competitivo

Ao integrar a psicanálise à gestão e à liderança, amplia-se a visão sobre o comportamento humano nas organizações. Compreender os jogos de poder, os mecanismos de defesa, os desejos inconscientes e os sintomas coletivos permite uma atuação mais estratégica e empática. Isso não apenas melhora o clima organizacional, mas também potencializa a performance sustentável da equipe.


Líderes que se cuidam emocionalmente tendem a criar ambientes mais saudáveis, equipes mais autônomas e relações mais verdadeiras. E isso, no fim, impacta diretamente os resultados do negócio.


Quem cuida, também precisa de cuidado.Quem sustenta, também merece ser sustentado.

A psicanálise nos ensina que o sujeito só é capaz de transformar o mundo à sua volta quando se permite olhar para dentro. Um líder que se escuta, lidera com mais presença, mais sabedoria e mais impacto.


Porque no fim, liderança não é sobre ter todas as respostas , é sobre ter coragem de se escutar.

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